
Como disse, minha vida foi toda em atividades bem longe da agricultura. Somente aos quarenta e nove anos eu pude conhecer de perto as maravilhas da agricultura. Fiquei viúvo, casei-me novamente e tive o privilégio de agora ter como esposa uma filha de agricultor e oriunda daquele ambiente desconhecido pra mim. Recém casados, fomos para Terra Alta no Pará. Quando eu cheguei àquela terra me senti totalmente perdido e deslumbrado pelo que estava vendo, conhecendo e aprendendo.
A vida no campo é muito diferente! A vida no campo é Vida com letra maiúscula! Lá a gente come do que planta e do que cria. O dia demora a passar e como dizia meu pai "se dorme com as galinhas e se acorda com os galos". A que saudade do meu pai.
Não demorei muito e comecei a me envolver com a terra. Apanhei horrores, pois só para aprender a capinar em acho que levei quase um ano. Não é exagero! Eu queria ser bom naquilo assim como é meu cunhado Alexandre. Ele teve muita paciência comigo. Dávamos boas gargalhadas com a minha "burrice" no quesito enxada, e ele foi um bom professor.
Para capinar sem estragar a ferramenta e fazer buraco na terra existe uma ciência. Isso pode parecer tolo pra que está acostumado, mas para quem nunca pegou em uma enxada, a coisa é difícil!
Pois bem, dentre tantas lições aprendidas lá, talvez a mais preciosa é a da maneira de como a terra se dá com quem semeia.
A natureza é exigente, temperamental e pontual em extremo.
Pude cultivar algumas plantas e aprender que cada semente tem o seu tempo. Eu ficava eufórico e ia todos os dias e as vezes três vezes ao dia para conferir se aquilo que eu havia semeado já estava germinando. Que agonia esperar! Embora minha vontade fosse muita, de nada adiantava minha ansiedade! A terra só dá o fruto no seu devido tempo. Assim como uma semente de cheiro verde tem seu ciclo do plantio até a colheita em aproximadamente trinta e cinco dias, a semente do maracujá, por exemplo, depois de muito tempo semeada, uma vez que nasça a flor, esta demorará setenta e cinco dias até o fruto cair do pé.
Outra grande lição foi aprender que só se tem boa colheita se o plantio for bem cuidado. E põe cuidado nisso! A gente precisa antes de semear tomar alguns cuidados. Precisamos arar a terra. Depois precisamos fazer as leiras. Depois semear e cobrir a leira para que a chuva não arranque as sementes que são plantadas bem no raso. Após alguns dias temos que limpar a leira, pois nasce muito capim e outras plantas, que se deixarmos, elas roubam os nutrientes da nossa plantação. Durante o ciclo do cheiro verde ainda temos que adubar a cada dez dias em média.
A terceira lição é a da paciência que tem que ser muita! Plantar e cuidar é também um exercício de paciência. É preciso esperar, esperar e esperar. No caso do maracujá ainda tem mais um cuidado que exige muita paciência. Em grandes plantações, quando a flor se abre ao meio dia, a natureza tem a Mamangava para polinizar a flor. Acontece, que por causa do uso indiscriminado de defensivos agrícolas, já não se tem tantas polinizadoras naturais que deem conta do serviço. Aí entra a paciência que precisamos, pois temos que ir de flor em flor passando o dedo para polinizar e assim garantir que aquela flor dará fruto.

Não tente quebrar os ciclos, pois isso não funciona!
Pense nisso. Seja feliz e lembre-se: Família. Você precisa cuidar da sua!
Rogério Bitencourt
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